[Resenha] A humanidade dos Anjos
Nota do resenhista:
O Brasil passa atualmente por uma fase de expansão e reconhecimento da sua literatura fantástica. Eduardo Spohr figura entre os mais representativos nomes do gênero e hoje o Clube do Livro traz até você a resenha de “Filhos do Éden – Anjos da Morte”, terceiro livro sobre o universo dos celestiais e o marco de Eduardo Spohr como escritor.
Tempo: De 3 a 4 dias (não há como parar de ler)
Finalidade: Aprender história e nos fazer pensar
Restrição: Para quem espera encontrar romances açucarados.
Princípios ativos: Pólvora, Napalm, Sangue e Lágrimas
Anjos da Morte, por Eduardo Spohr
Ao terminar de ler o primeiro livro de “Filhos do Éden” fiquei feliz por ter escolhido um bom livro para a minha leitura de férias, mas havia a sensação de que aquela história poderia ter tido algo a mais. Contudo, quando fechei o segundo volume da série estava maravilhada, o livro era completo. Em “Anjos da Morte” ainda há cenas de mortes em grande estilo ao som de icônicas músicas românticas, a história também é narrada através de flashbacks (amados por mim e odiados por outros) e as descrições cinematográficas de cenas e cenários ainda estão lá; pontos fortes da escrita do Eduardo Spohr que me agradaram desde “Herdeiros de Atlântida”.
Mas o que mudou de um livro para o outro? Talvez a resposta esteja na apresentação do próprio livro: “Anjos da Morte” é feito de “pólvora, napalm, sangue e lágrimas” (p. 11). A guerra arranca a narrativa do cotidiano e protocolo universitário, colocando os personagens – anjos ou humanos – em contato com o inesperado, com a incerteza e em um mundo sem regras. A continuação de “Filhos do Éden” nos mostra Denyel (e não Daniel!), um anjo da morte que – em meio aos combates do século XX – trava dilemas existenciais, se dá conta do caráter efêmero da existência (mesmo para os celestes), angustia-se, erra e sofre com o tédio. Um anjo humanizado.
A humanidade em Denyel só é possível ser desenvolvida e explorada (muito bem, diga-se de passagem) devido ao contexto das guerras que despertam no personagem toda a contradição de sentimentos inerente aos seres humanos. O contraponto entre o lado humano e o lado fantástico do personagem fica evidente na atmosfera do pós-guerra que, na visão de Denyel, se define em um misto de frustração, nostalgia e sensação de esforços empregados à toa. Ser celestial não o impede de ser atingido pela dureza e indiferença de uma sociedade que foi embrutecida pela guerra.
A insensibilidade dos homens como consequência da guerra ajuda a formar um efeito interessante e presente ao longo da narrativa: Os humanos ao se depararem com o sobrenatural buscam uma justificativa, atrelando o acontecimento fantástico ao que conhecem por realidade. Denyel – muitas vezes auxiliado pelo narrador – faz o processo inverso, são os aspectos mais comuns da humanidade que se tornam maravilhosos. A guerra é o que incita diferentes sentimentos em cada personagem, fazendo-os enxergar o mundo de maneira peculiar.
A continuação de “Filhos do Éden” tem passagens emocionantes e personagens bem estruturados que nos arrancam lágrimas e risos, deixando evidente o aperfeiçoamento da escrita do autor. A leitura de “Anjos da Morte” é altamente recomendada não só pela grandiosidade do universo e caráter universal da temática, mas pela beleza que se esconde em detalhes como a descrição de um amanhecer.
Resenhado por [Ana Rosa]
Anjos da Morte – Filhos do Éden – Livro 2 – Ano: 2013 – Páginas: 590
Ana Rosa resenhista, me mata de orgulho!
Estou precisando de um livro desses, que não conseguimos parar de ler. Valeu pela dica ;)
Do Eduardo Spohr eu só li A Batalha do Apocalipse (e recomendo muito). Estou muito curioso pra ler os outros dele. Adorei a narração.