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As lendas de Arthur

Um dos reis mais controversos da História (e da Literatura), Arthur tem suas lendas contadas pela autora Marion Zimmer Bradley, na obra “As Brumas de Avalon”. Lançado em 1979, o livro traz personagens femininas marcantes, como Guinevere e Morgana.

Confira aqui a resenha de Luciana Zulpo sobre as tragédias familiares e épicas da futura Grã-Bretanha, através de uma perspectiva histórica esclarecedora e uma narrativa empolgante.

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“As Brumas de Avalon”, de Marion Zimmer Bradley

tempoTempo: obra que exige muito tempo e dedicação
indicacaoFinalidade: para pensar
restricaoRestrição: tem dificuldade com pontos de vista alternativos
principioPrincípios ativos: Druidas, cavalaria, magia e lendas Arthurianas.

Rei Arthur. Camelot. Cavaleiros da Távora Redonda. Santo Graal. São palavras que surgem em nossas mentes sempre que pensamos em contos épicos de cavalaria. É possível falar que As Brumas de Avalon conta a história da ascensão e queda do rei Arthur, sob a perspectiva de suas heroínas. Trata-se também de Avalon, um lugar encontrado somente por aqueles que conhecem o segredo das brumas que o envolvem ─ o domínio dos druidas e da Senhora do Lago. Entretanto, são descrições limitantes. Ao contrário do que a temática sugere, não encontramos cenas detalhadas de grandes batalhas e torneios. O foco é muito mais intimista. O sangue jorrado é na maioria das vezes interno, psicológico, do que literal.

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O estilo do narrador é algo a ser destacado. Em terceira pessoa, ele parece acompanhar um personagem por vez, sabendo só o que este sabe. São incluídas as digressões, as hesitações e correções dos pensamentos deles, fazendo a narração parecer muito mais natural e espontânea − como se tivéssemos acesso direto à mente dos personagens, sem mediadores.

Talvez a essência do livro, muito mais do que embates de espadas, seja o a análise do processo de construção, destruição e reconstrução – em todas as instancias. Em maior escala vemos isso acontecendo com os reinados de Uther Pendragon e Arthur. Então vemos o mesmo se dando no intimo de cada personagem, especialmente em Morgana, irmã de Arthur. É a ela a quem o narrador sede a voz em alguns momentos; por ela somos iniciados na sabedoria druida de Avalon e ao culto a Deusa, que é profundamente baseado nessa natureza cíclica de todas as coisas.

Sendo um dos arquétipos mais antigos, a Deusa está presente em variadas culturas ─ no Japão ela é Amaterasu Omikami, na Grécia, Deméter, no Tibet, Dakini. Segundo C.P. Estés, ela é “a força da vida-morte-vida; é a incubadora. É a intuição, a vidência.. É a que gira como uma roda enorme. É a criadora dos ciclos.”. Assim como as estações na natureza, celebradas nos ritos druidas, a alma também tem as suas: o tempo de se expor ou de se recolher, de falar ou calar-se, de celebração ou de luto.

Morgana é sacerdotisa da Deusa. A compreensão dessa religiosidade é um estudo da psicologia em seu sentido primitivo: psukhè, alma; logos, conhecimento, ou seja, conhecimento da alma. Não é algo que se obtém de imediato; é um processo que se estende pela vida toda, adquirido por toda parte, em qualquer condição. O leitor acompanha trajetória de Morgana desde a infância até a velhice, sua construção como sacerdotisa, sua destruição e recuperação; seus ciclos como irmã, amante, maga, rainha.

Ao mesmo tempo em que a vemos chegando ao ápice da sua face sacerdotisa, observamos a derrocada de Avalon e da religião druida, que lentamente perde lugar para o cristianismo. Os antigos cultos passam a ser proscritos – alguns rituais são proibidos, como s fogueiras de Beltane. Recorrer aos poderes da intuição e pressentimentos inatos ─ que são chamados pelos druidas de Visão ─ passam a ser considerados sintomas de alguém maligno e voraz. O relacionamento com a natureza, com a Deusa, torna- se espectral. Essa discussão permeia todo o livro e não pode ser ignorada. Até que ponto houveram mudanças ou apenas uma nova roupagem?

Logo no prefácio, Morgana nos diz: “A verdade tem muitas faces e assemelha- se a velha estrada que conduz a Avalon: o lugar para onde o caminho nos levará depende da nossa própria vontade e de nossos pensamentos.(…) Assim, talvez a verdade se situe em algum ponto entre Glastonbury, a ilha dos padres, e o caminho de Avalon, perdido para sempre nas Brumas do Mar do Verão”.

Só existe um jeito de encontrar o caminho pelas brumas: abrindo o livro.

Resenhado por Luciana Zulpo

1024 páginas, Editora Imago, publicado em 2008.
*Título original: “The Mists of Avalon”. Publicado originalmente em 1979.

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Sobre o autor

11 Comentários

  1. Maria Denise

    pela resenha, trata-se de uma obra intigrante que nos faz pensar…nas nossas escolhas, condutas, pressentimentos, e mensagens que dirigem nossas vidas…enfim o que de verdade trasnforma nossa alma!
    Sem dúvida um livro para grandes reflexões. òtima resenha, vou ler “As Brumas de Avalon” . ;) Parabéns pela resenha !!

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  2. Praty

    Altamente recomendável… já li a série toda 2 vezes e com certeza é minha segunda série preferida… maravilhosa, envolvente, sedutora, misteriosa. Não nos faz refletir apenas como as pessoas mudam ao longo de suas biografias, mas também dos relacionamentos humanos entre cada duas pessoas, a relação com a Natureza e a devoção – seja druida, seja cristã, etc.

    Tem 7 anos a primeira vez que eu li e 2 anos que eu reli. A série se apresenta de forma diferente a cada leitura… é maravilhosa para quem acredita em certos mistérios da vida e pra quem que apenas curitr um bom romance. ;)

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  3. Anônimo

    Amo a série de livros das Brumas!!!

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  4. Anônimo

    Boa resenha. As série As Brumas de Avalon e Harry Potter têm em comum o tema da magia, mas o tratam de maneiras totalmente diferentes.

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  5. morg

    essa foi uma das melhores resenhas que já li até hoje sobre as brumas de avalon. é uma das minhas obras favoritas desde a minha adolescência e acho que você foi muito feliz com as suas ponderações a respeito da natureza cíclica das coisas (e do feminino). muito bom mesmo.

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  6. Paty

    Amo As Brumas de Avalon, é mega recomendável mesmo. :D

    Tem uma linguagem muito inteligente, e adoro a forma como mostram outros aspectos da lenda de Artur, a transição da religião pagã para a cristã e até as hipocrisias que envolvem essa transição, sem contar o ar ”platônico” do amor de Guinevere e Lancelote que me encanta profundamente, foi um livro que me remeteu a muitas reflexões históricas (partindo de um principio ficcional, claro) e filosóficos.

    A forma como Marion trata as mudanças pelas quais passamos em nossas vidas e como conta tudo desde ”antes do princípio” para que a narrativa faça sentido é fantástica, além dos jogos entre bem e mal que estão presentes o tempo todo… ah, ficaria horas falando bem dessa série, uma das minhas preferidas.

    Pena que não podemos falar tão bem assim da adaptação cinematográfica. :roll: #vergonhamor

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  7. Daniel

    Senti uma birra contra os cristaos no texto… E o cristianismo é do oriente, n tem nd a ver com a grã-bretanha

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  8. Lily

    Estou lendo o 3° livro, e só teve uma coisa que me incomodou muito: a questão do nome da Guinevere, que na contra capa tá escrido desse jeito mas nos livros todos aparece “Gwenhwyfar”. Tirando isso, é uma obra excelente.

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  9. Fernanda

    Gostei bastante da resenha, apresentou bem a série. Nossa, se eu começasse a falar sobre As Brumas de Avalon, precisaria de um número razoável de caracteres… é uma das séries mais bem escritas que eu conheço. Os personagens são muito bem acabados, há maturidade na criação deles, são multifacetados, não se limitando aos papéis muitas vezes colocados para os personagens do ciclo arthuriano.

    Sobre os dois comentários anteriores:

    Daniel, o cristianismo veio do oriente, mas chegou a Grã-Bretanha na época em que se passa o livro por causa da grande influência romana. Sobre a birra contra os cristãos, bem, de certa forma tem mesmo. Acho que a Viviane,a Senhora do Lago, é mais birrenta com os cristãos, mas os dois Merlins são mais equilibrados nisso, e a Morgana fica tentando se encontrar no meio desses conceitos. Acho que a conclusão geral do livro não vai contra o cristianismo, mas contra a prática fanática, restritiva e fechadora de mente de alguns cristãos, contra a noção de que essa seria a única visão certa, a verdadeira religião, e o resto seria todo composto por mitologias menores. A noção da Unidade múltipla é bem analisada ao longo da série, em diferentes contextos, e ela rejeita a elevação de um “conjunto correto de dogmas”, mas acolhe o cristianismo como uma das muitas alegorias possíveis.

    Lily, “Gwenhwyfar”, pelo que eu li, é a maneira original, vinda do gaélico, de grafar o nome. A personagem fica muito diferente dependendo da versão, nem sempre é essa menina meio acanhada e meio carola de boa parte d’As Brumas. O nome significa “Espírito Branco” (Gwen-Branco, Wyfar- Espírito).
    Existem várias outras grafias para o nome, o mais popular é mesmo “Guinevere”, aproximante latino de “Gwenhwyfar”. Entre eles está também Ginevra, que é o nome da Ginny Weasley.

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  10. Bell

    Quero dar os parabéns pela iniciativa da coluna das resenhas, já é um sucesso e também a todos os comentaristas, que demonstram ótimas reflexões e grande conhecimento sobre os temas, criando um debate bem legal!
    Sem contar o respeito aos colegas resenhistas ,aos comentaristas e a todos que acompanham o site. PARABÉNS ;) :idea: :!:

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  11. Lily

    Nossa, Fernanda, deu uma aula. Mas o que eu não gostei foi de usarem duas grafias diferentes para Guinevere no mesmo livro, apesar que achar interessante o uso do nome original.

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