[Resenha] Evolução e revolução em uma humanidade desumana
Nota do resenhista
Às vezes estar dentro do próprio corpo pode ser um castigo. Ser obrigada a sentir as próprias angústias, os próprios medos. E diante da própria imaturidade, não ter ninguém pra contar além de si mesma para crescer. Deixar de ser uma menina insegura para ser uma mulher firme na liderança de sua vida e da vida de outros. Isso é tão sufocante que tudo que você quer é libertar-se.
Tempo: 5 Dias
Finalidade: Evitar o tédio
Restrição: Quem não leu o primeiro volume (“Etilhaça-me”)
Princípios ativos: Guerra, Mutação, Romance, Revolução, Distopia
Liberta-me, de Tahereh Mafi.
Olá pessoas!
Ando meio louco com tanta coisa ao mesmo tempo. Trabalho, faculdade, família, colunas novas… Mas não iria abandonar vocês!
Hoje, se a chefia deixar, vou continuar falando de Juliette – a menina que começou a se estilhaçar em pedaços no primeiro volume da trilogia, agora no segundo volume ela sente-se prisioneira de suas próprias decisões. Talvez por isso o titulo nacional seja Liberta-me. Não tenho muito que dizer da autora Tahereh Mafi, além de sua habilidade com metáforas e simbolismos. Publicado no Brasil pela Novo Conceito, o segundo volume revela muito sobre o primeiro, então resenhar sobre Liberta-me significa contar spoilers de Estilhaça-me. Conselho: não continue a leitura além deste ponto se você ainda não leu o primeiro volume.
Esse livro descreve 432 paginas de dúvidas, angústias, dilemas morais e aprendizagem da personagem. O tradutor mudou do primeiro para o segundo livro, mas não percebi nada que tenha prejudicado a leitura, como acontece em alguns casos.
Juliette finalmente cativa com sua evolução. Mas ainda irrita com seus retrocessos. Narrando a própria história, a personagem mostra o estrago que a inexperiência e imaturidade podem causar.
“Quero rir, uma daquelas risadas estranhas, agudas, enlouquecidas que assinalam o fim da sanidade de uma pessoa. Porque o mundo, eu penso, tem um senso de humor terrível. Ele sempre pareceu rir de mim. À minha custa. Deixando minha vida infinitamente mais complicada o tempo todo. Arruinando todos os meus planos mais bem formulados ao tornar toda escolha muito difícil. Ao tornar tudo tão confuso.”
Depois de finalmente se libertar das garras do Restabelecimento, Juliette decide ficar com seu amado Adam no esconderijo da resistência – que se autodenomina Ponto Ômega – para compreender e desenvolver melhor suas habilidades. Agora podemos entender que o mal causado ao meio ambiente gerou um tipo de desequilíbrio tão hostil que influenciou no DNA despertando em alguns indivíduos certas habilidades específicas. Adam descobre que este é o motivo pelo qual ele pode tocar sua amada: ele também possui uma mutação em seu DNA.
Obviamente, Warner não vai aceitar simplesmente a fuga de Juliette – principalmente sabendo que pode tocá-la e realizar suas fantasias românticas com ela. Sua busca pela garota dará início à guerra que há tanto tempo se anunciava.
Mas esse livro é maior do que o primeiro. E com a vantagem de que toda a lentidão no desenrolar da trama já aconteceu no primeiro volume, Juliette tem varias subtramas simultâneas com as quais se envolver. A dúvida quanto aos experimentos realizados no Ponto Ômega, o comprometimento com causas que ela nunca soube existirem – portanto, nunca foram dela. As adversidades que começam a surgir entre ele e seu amado (como seria um romance sem isso?), as descobertas sobre suas habilidades e o medo de lidar com elas.
A autora mantém o estilo de narrativa com excesso de adjetivos e repetições para destacar as emoções da personagem. Me chamou a atenção o fato de que a quantidade de frases riscadas – que indicam as negações interiores da heroína – diminuíram, o que do meu ponto de vista simboliza o amadurecimento da personagem e a maneira como ela aos poucos vai se tornando mais segura de si.
E mais dinâmico do que o primeiro volume, mas a evolução da personagem ainda é pequena na primeira parte da história. Somente as reviravoltas inesperadas que ocorrem a partir de determinado ponto do livro obrigam a crescer. Ao longo a história Juliette finalmente começa a mostrar a que veio e põe as garras de fora.
Particularmente, eu gostei bastante e achei o enredo mais intrincado do que o do primeiro volume. A dinâmica dos eventos e os dilemas morais da personagem prendem o leitor pelas emoções. Esse é o grande marco da história: as emoções da personagem. A distopia – mais uma vez – é apenas um recurso de ambientação da saga.
Novos personagens dão alguma profundidade na trama, mas é um livro essencialmente feminino e com certos infantilismos que considerei desnecessários. A coerência com a experiência de vida da protagonista justifica boa parte disso, mas com o decorrer da trama e evolução da personagem, eu confesso que esperava mais. Gostei do livro sim! Mas já não sei dizer se sou um bom parâmetro pra isso, pois já percebi que sou capaz de apreciar o que há de melhor em cada história, mesmo quando não são boas histórias. Acredito não ser o caso. Realmente me parece uma boa história. Bem explorada, bem caracterizada, bem desenvolvida, mantendo as pontas soltas talvez um pouco soltas demais, mas retomando-as de maneira convincente dentro do contexto. Definitivamente é um bom livro pra passar o tempo.
Mas a temática do livro fica duvidosa para o que eu suponho que deveria ser o publico alvo, então me sinto confuso para quem indicar o livro. Ela não é uma mulher forte, mas tenta ser e definitivamente não é uma coitadinha apesar de alguns trechos fora de foco – Isso naturalmente desaconselha a leitura para grande parte do publico masculino e tende a atrair o publico feminino em massa, A dinâmica da aventura, no entanto, é fantasiosa demais pra grande parte do publico feminino, com tópicos que geralmente atraem o publico masculino adolescente. Com o agravante de que este é a sequencia de um livro com indicação de publico muito mais sensível.
Só posso concluir que – assim como a protagonista Juliette – esse livro é contraditório sem ser incoerente.Vale comentar que o final tem um gancho curioso para o terceiro volume, deixando claro que o trio Juliette, Adam e Warner ainda tem muitas desventuras pra enfrentar.
Boa leitura
Resenhado por Leandro Borges.
441 páginas, Editora Novo Conceito, publicado em ano 2013.
*Título Original: Unravel me.
gostei, deu mt mt vontade de ler.
eu adorei o primeiro
ficou na minha cabeça durante um mes