[Resenha] Não existem homens íntegros
Nota do resenhista
Uma possível condenação injusta. Um jornalista determinado a saber a verdade e outro buscando apenas uma boa história. Um jovem jornaleiro e uma mulher solitária interessada num presidiário condenado a pena de morte. Juntos, eles iniciam uma investigação cheia de reviravoltas, traições e meias verdades.
Tempo: Para ler aos poucos em intervalos durante a semana.
Finalidade: Para distrair.
Restrição: Para quem não gosta de longas histórias investigativas.
Princípios ativos: Investigação, jornalistas, mortes, mentiras, traições, sexo.
Paperboy, por Pete Dexter.
Agosto, 1965. Thurmond Call, xerife na região do condado de Moat, matou 17 pessoas – sendo 16 delas negras – durante seus 34 anos de profissão. A 17º vítima e único branco, Jerome Van Wetter, foi morto à ponta pés enquanto era preso em Lately, a cidade sede do condado. Porém, se um Van Wetter é morto, outro membro da família irá vingar sua morte.
Hillary Van Wetter foi preso e condenado por esfaquear o xerife Call e abandoná-lo em uma rodovia estreita em Moat, um ato de vingança em nome da família. O trágico fim do xerife pareceu neutralizar todas as mortes causadas por abuso de poder. O extravio das evidências que incriminariam legalmente Hillary pelo assassinato não tinha a menor importância para as pessoas e, principalmente, para a imprensa local.
“Se eu estivesse no seu lugar, tenho certeza que, depois de provocado o suficiente para matar, eu também optaria pela intimidade da lâmina.”
Ward James e Yardley Acherman são dois conhecidos jornalistas investigativos do Miami Times. Ward é reservado e de uma determinação inquietante, procura analisar os fatos detalhadamente e, para isso, é capaz de enfrentar qualquer dificuldade. Yardley é temperamental e tem muito apresso pela fama, aspirante a escritor, prefere conhecer as histórias de maneira mais distante e esperar que os detalhes cheguem até ele.
A dupla de jornalistas foi atraída para o condado de Moat pela exótica Charlotte Bless. Sem levar em conta sua atração incomum por condenados ao corredor da morte, com os quais costuma manter contato por correspondência, Bless acredita na inocência de Hillary Van Wetter, seu noivo, sem nem ao menos vê-lo pessoalmente uma única vez.
“– Se desconsiderarmos meus sentimentos pessoais em relação a Hillary – disse ela, olhando novamente para Yardley -, vim aqui para corrigir uma injustiça e libertar um homem inocente.”
Na busca por evidências do assassinato do xerife Call e pela versão real da história, Ward pede ajuda ao seu irmão Jack que, ao contrário do pai e do irmão, é jornaleiro e não jornalista. A missão de inocentar Van Wetter não será nada fácil. A polícia, a família e o próprio Hillary não estão empenhados em remexer histórias do passado. Seu parceiro, Yardley Acherman, está interessando apenas num matéria que seja aclamada no meio jornalístico.
“Na verdade, não tinha nada a ver com o fato de saber se Hillary matara o xerife Call, ou se fora representado de maneira justa em seu julgamento. No fundo, meu irmão queria saber o que havia acontecido e colocar tudo no papel. Ele queria a história exatamente do jeito que acontecera.”
Histórias mal contadas escondem grandes surpresas, segredos, mentiras, traições. Nos rumos dessa investigação todos terão seus defeitos revelados e alguns erros podem colocar tudo a perder.
“É desconfortável mentir para alguém a respeito de coisas quando vocês dois sabem qual é a verdade.”
“Paperboy” não chega a ser um livro cansativo, afinal o leitor é levado a crer num final surpreendente até a última página, o que não acontece. A falta de capítulos causa certa estranheza, a narrativa é dividida por quadradinhos no centro da página após cada cena. A história se passa nos Estados Unidos na década de 1960, portanto, é quase possível sentir o cheiro do álcool e a fumaça dos cigarros saindo das páginas. O livro é narrado em primeira pessoa por Jack, o que não parece ser um problema, mas os personagens são de poucas palavras, logo não se deve esperar diálogos calorosos. O desfecho de alguns personagens seguiu o esperado, mas a real intenção da trama não ficou bem clara ou simplesmente não chamou atenção.
Resenhado por [Rafael Duarte]
333 páginas, Editora Novo Conceito, publicado em 2013.
*Título Original: The paperboy.