[Crítica] O Hobbit: a desolação de Smaug
Em primeiro lugar, quero salientar uma coisa. Já disse que, quando se trata de adaptações, ainda mais de histórias e livros que eu venero, tenho dois lados: a de cinéfila, que vai observar tudo pelo ponto de vista de fãs de filmes, e de tolkeniana, que vou analisar do ponto de vista do livro escrito por Tolkien. Como no ano passado, esses meus dois lados duelaram pra ver quem levava a melhor. De novo, deu empate.
O bom de um livro cuja adaptação é dividida em duas ou mais partes é que a segunda parte começa de forma mais ativa que a primeira. Os anões estão chegando perto da montanha, muito perto, e os orcs estão a sua caça. Gostei da forma como nos apresentaram Beorn, ele na forma de homem não era o que eu esperava, mas me surpreendi gostando da caracterização. Foi uma das cenas que eu gostaria que tivesse sido mais explorada, mas Peter Jackson foi direto ao ponto.
“Você mudou, Bilbo. Não é o mesmo hobbit que deixou o Condado.”
Com essa simples constatação, dá para perceber que foi isso mesmo que aconteceu. Bilbo está mais seguro, mais atento aos perigos, mais consciente das coisas e situações grandiosas a sua volta. A cena com as aranhas foi exatamente do jeito que eu imaginava, até mesmo as vozes delas. E Bilbo lutando pra valer mostra o amadurecimento do hobbit durante a missão na qual ele se envolveu.
A chegada dos elfos, para variar, eu também amei. Até mesmo da personagem criada, Tauriel. Não estou usando como desculpa para essa “invenção” do Peter Jackson (que muita gente odiou), mas agora não vejo tanto fuzuê sobre a personagem. Ok, Tolkien não a criou, e fazer certos tipos de modificações em uma adaptação de um livro de um escritor tão renomado pode sim ser considerado um crime. Mas agora vejo que ele só deu significância demais a um personagem que existia implicitamente (chefe da guarda do reino de Thranduil); talvez o grande problema tenha sido o tal do romance com um anão (que na verdade nem é romance, é mais uma admiração, um sentimento de abertura, de amizade). Mas eu gostei dela, de maneira geral (meu lado feminista sempre adora ver as mulheres batendo e socando e lutando). Tauriel, como elfa, conseguiu fazer isso graciosamente, como Legolas. Aliás, quando ele apareceu, meu lado mulherzinha teve um chilique. Completamente diferente de “O Senhor dos Anéis”, quando somente seguia, agora ele está entre seu próprio povo, agindo como um verdadeiro príncipe, seguindo as ordens de seu pai (o rei), com sua própria voz de comando. Amei. Seu pretenso interesse por Tauriel é bem mostrado (a mulherzinha em mim pirou com ciúme demonstrado… rsrsrs) Sobre Thranduil, não tive muita certeza do que esperar, foi outra boa surpresa. Ele é um rei, que quer ver suas ordens sendo cumpridas. Ponto. Não tolera desobediências e nem esquece as “traições” que tenha sofrido. Como Thorin.
Esse é um ponto em comum entre os dois reis. Eles mandam e querem ser obedecidos. Eles têm palavra, mas isso é uma coisa meio reticente… Não se vê mais Thorin com aquela raiva de Bilbo, mas ele continua arrogante. À medida que se aproxima da montanha, as lembranças do tesouro e da pedra Arken crescem em sua mente, sua teimosia beirando a intransigência. Richard Armitage mostrou bem essa transição do personagem. Seu discurso perante o Senhor da Cidade do Lago só demonstrou o tamanho de sua arrogância e mostrou mais uma semelhança com Thranduil: qualquer que fosse a recompensa dada em pagamento pela ajuda da Cidade, seria sob os termos dele (Thorin).
Bard. Outro personagem que eu achei que fosse simples. Mas como o herói da história, claro que teria mais um pano de fundo embasando-o. Ele se mostrou semelhante a Aragorn, que carrega uma culpa por conta de um erro (nesse caso, não acerto) de um antepassado. Ele ajuda, mas sabe que a desgraça se aproxima. Típico do herói relutante. Ele recitando os versos da antiga profecia é um dos melhores momentos, pois é aí que ele percebe que a cidade e o povo caminham para a própria destruição, graças à ganância pelo famoso ouro dos anões.
Enquanto isso, Gandalf está na fortaleza de Dol Guldur. Suas suspeitas são verdadeiras. O Necromante aparece para ele (aquela imagem de Sauron, sua forma no fogo, foi demais). Na cena em que ele luta, mostrando seu poder, não pude evitar lembrar a sua luta com o balrog: duas forças extremas, de lados opostos. Perfeito. Também gostei dessas partes porque mostra os motivos da ausência dele junto a companhia de Thorin.
“Eu sou o Rei sob a Montanha.”
Voltando a Montanha Solitária, antes de chegar nela, tem-se uma visão da antes próspera cidade de Valle. Não tem um motivo específico, mas gostei de ver a cidade coberta pela neve, abandonada, aos pés da montanha. E então… Eis que eles conseguem entrar (depois da cena de parar o coração, quando Bilbo descobre a entrada), e o hobbit deve descer. Eu esperava essa parte exatamente igual aos livros, não sei por quê. Mas gostei da condensação feita para poupar tempo, assim mostrou mais do diálogo ente ele e Smaug.
Aliás… Smaug. A maior calamidade de seu tempo. Todo cheio de arrogância, cobiça e posse. Imenso, um monstro perfeito, um dragão espetacular. Benedict Cumberbatch e sua voz ma-ra-vi-lho-sa conseguiu me deixar torcendo pelo vilão. Não deu pra evitar. Ele foi a criatura, depois de Gollum, que PJ e sua equipe conseguiram criar com perfeição, exatamente como eu imaginava. Quando ele se exibiu para o Bilbo, pensei: “Meu pai, se ver esse filme, vai dizer: – Finalmente surgiu um monstro para peitar o Godzilla.” (ele acha o Godzilla o monstro perfeito). Magnífico, soberbo, realmente. Seus diálogos com Bilbo me deixaram de olho grudado na tela; quando ele se vangloria de sua forma e força e Bilbo vê sua cicatriz deixada por uma flecha negra (aliás, essa cicatriz, além de provar que as histórias sobre o antepassado de Bard são corretas, deixou no ar se não seria o ponto fraco do dragão, diferentemente do livro.) Não fica muito na cara a tal armadura dourada, mas ele coberto de ouro derretido (ou fogo, não consegui determinar) foi uma visão.
O final do filme foi… Não o que eu esperava. Não mesmo. Fiquei de boca aberta, esperando mais. Sem acreditar. Ainda estou pasma. Só no ano que vem agora. Não entendam mal, não foi ruim, só que fiquei desesperada querendo mais. Em tudo e na maior parte, Smaug, claro, sendo a principal das razões porquê esse filme foi demais. Mal posso esperar para a última parte. Meus lados cinéfila e tolkeniana vão terminar o ano em paz