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Jovens com talento e sem vida

Desde que as filmagens de Harry Potter terminaram, eu me pergunto como os atores da série estão se sentindo. Afinal, eles passaram dez anos nos estúdios, entraram crianças e saíram adultos. Agora, eles se sentem livres ou sem rumo?

Curiosamente, encontrei uma reflexão sobre esse assunto em uma obra que não tem nada a ver com cinema e atuação, mas sim com esportes. Na autobiografia do ex-tenista Andre Agassi, um americano que nasceu no mundo do tênis e não teve a chance conhecer ou escolher outra profissão. Olhando de fora, parecia amar o que fazia. Porém, neste livro, confessou: sempre odiou o tênis.

Como levar a vida fazendo algo em que você é bom, que te deu fama e dinheiro, mas não gosta? E, principalmente, o que fazer quando tudo acaba? Leia a resenha feita por esta editora que vos fala e saiba mais sobre o precoce “Agassi”.

“Agassi”, de Andre Agassi e J.R. Moehringer

tempoTempo: para ler pouco a pouco em intervalos na semana
indicacaoFinalidade: para rir
restricaoRestrição: para quem não gosta de perder tempo com longas descrições
principioPrincípios ativos: esporte, fama, dinheiro, precocidade, biografia.

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“Tenho sete anos e falo sozinho porque estou assustado e porque sou a única pessoa que escuta o que eu digo. Bem baixinho, digo para mim mesmo: Desista, Andre, apenas desista. Largue a raquete e saia desta quadra de uma vez, agora. Vá para casa e procure alguma coisa gostosa para comer”.

agassi

Para quem conhece tênis, Andre Agassi é um nome que dispensa apresentações, sendo um dos maiores de sua geração e da história dos EUA. Uma referência para quem não conhece muito o esporte é que ele jogou no fim dos anos 80, durante os 90 e foi até 2006 (e sim, ele jogou com o Guga algumas vezes).

Seu pai tentou fazer de todos os filhos grandes tenistas, mas só Andre deu certo. Entre os juvenis, era o melhor; ainda adolescente, foi procurado pela Nike; passou anos em um internato no qual as horas do seu dia se dividiam entre a escola (na qual era péssimo) e a prática exaustiva de tênis (na qual era bom, mas não gostava).

A fim de protestar contra aquela vida programada, sem desapontar seu violento pai, Agassi começou a vestir roupas diferentes, perucas, brincos, dar entrevistas polêmicas, enfim, a fazer todas as coisas comuns aos atletas de hoje, mas que ainda são mal vistas no mundo do tênis. A mais grave delas foi mentir sobre o resultado de um teste para drogas que deu positivo.

Sua vida de pop star culminou num fracassado casamento com Brooke Shields, a protagonista de “A Lagoa Azul”. Numa das passagens mais legais do livro, Agassi conta que teve uma crise de ciúmes durante uma participação da namorada em “Friends”, na qual sua personagem lambia a mão de Joey. Furioso com aquilo, o tenista saiu do estúdio, deixando os atores perplexos, voltou para casa e quebrou todos os seus troféus.

Chegando aos 30 anos, Agassi ainda não havia encontrado uma forma de dar sentido a sua vida, de fazer algo substancial e maduro. Após conquistar quase tudo no esporte, ele direcionou sua fortuna a algo que ele sempre desdenhou: educação. Na sua cidade natal, abriu uma grande escola para crianças carentes, bem diferente do internato que frequentou quando criança.

O mais divertido de “Agassi” é o tom aberto das revelações do ex-jogador (não por coincidência, o nome original é “Open”), sem esconder as boas ações de amizade e caridade que ele fez, tampouco as trapaças e as desventuras amorosas. Muito bem construído em sua narrativa, o texto foi escrito juntamente ao premiado jornalista J.R. Moehringer, que, segundo Agassi, não quis assinar o livro.

O mais interessante é que não se trata de uma visão do ex-jogador sobre o que aconteceu, pois o narrador conta a história como se estivesse vivendo naquele momento, sem saber o que veio depois, algo raro em biografias. Para quem gosta de esporte, uma obra praticamente obrigatória. Mas os que querem apenas acompanhar uma curiosa jornada também ficam satisfeitos.

Voltando àquela história dos meninos precoces, há uma cena em que Agassi pergunta a Brooke Shields sobre a amizade da moça com Michael Jackson. Ela responde: “Ele é como nós. Alguém que nasceu com muito talento e não teve escolha”.

Resenhado por Sheila Vieira

503 páginas, Editora Globo, primeira edição em 2010.
*Título original: Open. Publicado originalmente em 2009.

Sobre o autor

3 Comentários

  1. karinne

    Já tinha ouvido falar do livro, mas não sou muito fã de biografias. Mas a resenha ficou muito boa e despertou o interesse na obra. Parabéns Sheila.

  2. Anne

    os atores devem estar sentindo um vazio muito grande vc fica 10 anos convivendo com pessoas quando isso de repente acaba , mas eu espero que eles sejam reconhecidos por outros trabalhos nao so por harry potter

  3. Julieta

    ahhhhhhh é eles devem estar se sentindo muito sem vida e vazios , mais para mim o fim de HP representa um novo começo emocional e artistico …
    mas e claro que agora a pressao ira almentar porque eles terao de sair do esteriotipo de que foram colocados : os de bruxos

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