O lobo (nem tão) mau do rock
Biografia sempre são interessantes por adicionarem a noção de realidade a uma narrativa por si só já interessante. Quando o personagem principal é um dos músicos mais polêmicos do país, o resultado são 591 páginas de viagem em diversos territórios perigosos e interessantes.
O jornalista Claudio Tognolli e o roqueiro Lobão trazem ao público “Lobão: 50 anos a mil” e Thiago Terenzi nos diz o que esperar do livro que está fazendo sucesso nas livrarias. Leia o texto e deixe seu comentário!
“Lobão: 50 anos a mil”, de Claudio Tognolli
Tempo: para ler pouco a pouco em intervalos durante a semana | |
Finalidade: para pensar | |
Restrição: para quem tem dificuldades com pontos de vista alternativos | |
Princípios ativos: biografia, Lobão, rock, MPB. |
Algum sexo, várias drogas e muito rock ‘n roll. Tudo isso recheado com suicídios, prisões, brigas, perseguições e muito mais. A união desses elementos seria suficiente para entreter qualquer leitor ávido por uma estória repleta de ação. Neste caso, a estória não é ficção: este roteiro exagerado aparentemente inverossímil faz parte da autobiografia do roqueiro Lobão, um dos mais explosivos e emblemáticos personagens da música brasileira.
“50 anos a mil”, autobiografia escrita pelo roqueiro em parceria com o jornalista Claudio Tognolli, registra em suas 591 páginas, todas as grandes – grandissíssimas, diga-se de passagem – polêmicas que envolvem o artista. Em Lobão, tem-se material para vários livros: suicídio do pai, da mãe, prisão, envolvimento com o Comando Vermelho, perseguição da polícia, briga com as gravadoras, etc., etc., etc.
Basta uma rápida procura no Youtube ou Twittter para constatar o quão surreal foi – e é – a vida do roqueiro. Num dos vídeos mais acessados, Lobão, com um certo orgulho no rosto, narra a um elegante e atordoado Ronnie Von, num desses programas familiares, o envolvimento com o Comando Vermelho. Tanto no livro quanto na entrevista – afinal, o roqueiro consegue manter nas páginas do livro e mesmo ritmo narrativo que lhe é característico na fala (uma verborragia sem tamanho) –, Lobão consegue contar sua explosiva e inconsequente história de vida com um misto de força e serenidade extremamente improvável: consegue se autoanalisar e refletir sobre seus próprios atos sem perder a potência narrativa necessária a uma história tão potente.
Mesmo sabendo que sua biografia tinha força suficiente para lhe render um bestseller, o músico prefere ir além transformando o livro em uma obra excepcional. Lobão, como lhe é comum, acerta ao fugir do provável e dedicar páginas e páginas a pacata infância. Essa escolha perigosa – pois soa como uma propaganda enganosa àqueles que esperam ação desde as primeiras linhas – traz à obra uma profundidade importantíssima e transforma o mitificado-roqueiro-transgressor-mau-bandido-louco-inconsequente em um: ser humano.
Ao mostrar enfim o lado desconhecido do roqueiro (desconhecido por não ser aparentemente tão interessante ao público), podemos enfim querer ousar entender os porquês de um homem excepicionalmente culto, delicado e amoroso ter se transformado em um roqueiro-bandido transgressor capaz de vomitar insultos e se transformar em mascote do Comando Vermelho.
“50 anos a mil” desmistifica a figura de Lobão e com uma coragem sem tamanho enfim o desnuda ao leitor. Mesmo aos que não gostam de sua obra, vale a leitura como mergulho em uma das mentes mais interessantes da música popular.
Resenhado por Thiago Terenzi
591 páginas, Editora Nova Fronteira. Publicado em 2010.
Deve ser um livro legal. E é possível que depois precise de mais edições, pq o Lobão ainda não terminou suas aventuras, como falar mal do Restart em rádios por aí e correr o risco de ser assassinado pela turma colorida…