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Realismo trágico
Nada melhor do que ler aquele clássico que você sempre ouviu muito falar, sabe até qual é o enredo, o final, o autor, mas nunca realmente pegou o livro e passou pelas páginas. Se essa é a sua história com “Cem Anos de Solidão”, eis mais um incentivo para começar a obra de Gabriel García Márquez.
O texto de hoje foi escrito por Luis Nakajo, um dos idealizadores da seção de Resenhas, ex-editor das Colunas (e responsável por minha entrada no Potterish), que concorreu com este texto ao concurso da revista “Veja” de resenhas. A votação já acabou, mas você pode ler o texto sobre a obra primordial do realismo mágico agora! Deixe também o seu comentário!
“Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez
![]() | Tempo: para ler de um tiro só no fim de semana |
![]() | Finalidade: para pensar |
![]() | Restrição: para quem não gosta de longas descrições |
![]() | Princípios ativos: realismo mágico, literatura latina, idealismo, melancolia, história. |

Quando recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 1982, o colombiano Gabriel García Márquez não por acaso abriu seu discurso resumindo alguns “mistérios inimagináveis” que, desde o tempo das descobertas, tornavam a América a terra das hipérboles. Sua obra máxima, “Cem anos de solidão”, é a tentativa bem sucedida de contar histórias igualmente fantásticas, mas com o detalhismo rigoroso que não era característico daqueles cronistas de viagem.

Tudo se passa em Macondo, simpática cidade às margens de rio com seixos ao fundo, perdida em algum ponto impreciso da América hispânica, onde Úrsula Buendía e seu marido, o primeiro José Arcádio, se estabelecem como prósperos cidadãos.
A partir daí, e seguindo linha cronológica que se extinguirá cem anos mais tarde, a narrativa se perde no delírio de episódios que constituem a história dos Buendía – episódios que vão do truque barato de magnetismo à ascensão aos céus, passando por fantasmas magoados, chuvas que duram meses, tesouros, amnésias enlouquecedoras, epidemias de insônia– que contornam os absurdos mais comuns, o de Lewis Carroll (1832-1898) e o de Franz Kafka (1883-1924), sem negar, contudo, a herança destes, e principalmente a deste último.
Pois Cem anos de solidão é poderosa reflexão sobre a claustrofobia da História. García Márquez produz esse efeito situando os cem anos entre dois pólos da estirpe dos Buendía: a matriarca Úrsula e seu filho, o coronel Aureliano; uma, a personificação do bom senso e da industriosidade; o outro, do idealismo e da melancolia. Ambos assistem, com diferentes graus de envolvimento, ao ciclo de amores insolúveis, guerras de caudilhos, buscas alquímicas, surtos de fanatismo religioso, fugas magníficas em que se envolvem, geração após geração, todos os Buendía, todos presos ao seu atávico destino de repetição (presente também nos nomes das personagens masculinas).
Desta forma, “Cem anos…” é peça chave de um realismo trágico –descendendo do teatro de Sófocles–, e não apenas do realismo mágico, expressão já atribuída à obra da italiana Anna Maria Ortese quando da publicação de Cem anos em 1967.
A história se acelera com a morte de Aureliano e Úrsula, apontando para um fim melancólico que, no entanto, se revela apoteótico. Depois de viver cem anos em Macondo, o leitor ainda terá nas últimas páginas do livro um presente raro: a solidão antecipada de estar prestes a se despedir de uma obra-prima.
Resenhado por Luis Nakajo
394 páginas, Editora Record, 2005. Tradução de Eliane Zagury.
*Título original: Cien años de soledad. Publicado originalmente em 1967.
Acabei o livro ontem, e é, com certeza, um dos melhores livros que li na vida. Pra quem vai começar o livro agora, vale ler com um caderninho do lado, pra ir montando a árvore genealógica dos Buendia e não se perder no meio de tantos Aurelianos e José Arcadios.
Lembro que eu perdi a paciência com o livro, não terminei. Qual é o objetivo de repetir tanto os nomes?
ah, eu sou apaixonada por esse livro. li-o no começo desse ano e fiquei encantada com a narrativa do Gabito e o modo como ele desenvolveu a história da família Buendía. e acho que o objetivo de repetir os nomes (como a Natália perguntou aqui em cima) é intensificar, de certa forma, aquela sensação de fatalismo, de que não somos capazes de escapar àquele sentimento inevitável de solidão que acaba atingindo todos os membros da família Buendía.
Ótima resenha. <3
Há uma edição de Cem Anos de Solidão aqui em casa… Meu irmão também fez ótima recomendação do livro. Vou lê-lo finalmente. =]
Concordo com o que o Luis fala no fim: o presente é raro e a solidão que fica também. É quase como em HP, sentimos solidão por não estar com Harry então relemos os livros.
Aind não li esse, vou aproveitar este incentivo;D
Recomedo “Memórias de minhas putas tristes” dele, é excelente! :D
Não cheguei a terminar (tava lendo emprestado e tive que devolver X__X), mas Cem Anos é uma imersão fascinante e duradoura (no sentido interno, no sentido de grande clássico e na própria leitura como deve ser feita na minha opinião, deixando o ritmo dos acontecimentos acompanharem a sua curiosidade).
Quanto à resenha, foi curtinha, mas até que passou bem algo do espírito do livro. ‘Realismo trágico’ é uma expressão ousada, se por alguém que tem autoridade, acho que que faltou dar uma situada. Mas, enfim, o texto sequer foi feito pra cair aqui…
Acho que nao tenho maturidade nem paciencia suficiente pra ler, mas, um dia termino!